16 de janeiro de 2017

Crise pra falar da sua boca
Dentes e mais dentes
Sorrindo assim sem inocência
Na graça da fome
Devorada e devorador
No clarão esbranquiçado do entrelinguas
Crise de presa fascinada escorrendo
Sangue e desejo pelos olhos revirados
Crise no pescoço hirto abocanhado
O cabelo sempre em desalinho
Alinhado arrebanhado unido num puxão
Crise pra falar dos outros cosmos
E de como se sai do corpo invadido
Mesmo estando nele
Apenas para entrar de novo
E reconhecer o diferente
Crise de não querer satisfação
Posto que a eternidade está logo ali
Palpável e polpuda como um projétil
Crise nos sonhos de bangbang
O herói montado perseguindo a si mesmo
No labirinto lúbrico que sou
Crise nos nomes que assumo
Vezes sem conta como se fora a dinheiro
ou meramente para provar ausência de castidade
crise na mão pesada que todos fingimos condenar
e que não há lugar melhor onde se encaixe
que nas cores que ela espalha
Crise de terra prometida
Novo mundo em que se plantando tudo dá
Ingovernável desenfreado loucamente
Crise de não ter mais onde e precisar
A bolsa sobe e desce regularmente
Mesmo na pior das crises
Crise de não ter mais pensamentos e desvios
Vem vindo vindo vindo lindo lindoooo
Uivo incontido e lento como a morte
Morrer é a melhor das crises
Crise do leite derramado
Será que chorando um pouco
Mais leite virá

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