16 de janeiro de 2017

Errei
Tive febre
Ódio
Desespero
E como mero joguete
Atirei a primeira pedra
Depois veio a segunda
Na terça e na quarta
Ninguém reclamou da atitude
Juntei todas as pedras que pude
Menos a de Drummond
Essa deixei no canto empoeirada
Não adiantava nada ter uma pedra consciência
Comecei a colecionar mortes
De pequenos bichinhos torturados
Passarinhos lagartixas minhocas
Que se moviam mesmo depois
De cuidadosamente seccionadas
Dei vazão à raiva
Da intolerância fiz minha bandeira
E da banheira apoiei ditadores
Pelo rigor contra a bandalheira
Beijei a mulher do vizinho
Espiei sua filha se trocando
E quando ela não quis
Observei que curava lesbianismo
Assim mesmo não me dei por satisfeito
Peguei dinheiro de candidato a prefeito
Estacionei na vaga de deficiente e velho
Porque nem existem tantos assim
E por fim animado do forró e cana
Levando as kengas pra um programa
Passei por cima de um pedinte
O erro foi não ter voltado
E acabado com a aporrinhação
Agora aqui sem motivo
Vendo nascer quadrado
O que a todos ilumina
Ouço dizerem contra mim
Que devia morrer
Que não faço falta
Que sou um estorvo
Uma aberração
Pera lá cidadão
Isso tudo é pra quem culpa tem
E eu
Eu sou cidadão de bem

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