8 de março de 2016

Ando de mal com a lua
Logo eu que não consigo
Fixar os pés na terra
Nem sei aonde mais
estacionar a imaginação

5 de março de 2016

Lenda do Pôr

Suava seu pão no claro do dia
Era negro de um negrume mau
Como os versos de uma revolução sangrenta
E no seu negro negar havia ritmo e sedução
Umas poucas palavras escuras
Duras como a lida dos bordéis
Cobriam sua pele com cicatrizes simbólicas
Em que o ódio podia penetrar vergastando
Não chorava como era de esperar
Nem tramava vinganças terríveis
Não era um clown shakespeariano no umbral
Nem um verso heróico de Gonçalves Dias
Um homem comum ser comum filho
Do caos e à deriva como todos nós
Que podia ter sido o leiteiro de Drummond
Até mesmo personagem malandro de Jorge
Amado ou não em vida quem sabe
Mas o chicote não parava de estalar
Nessa malignitude que diziam existir em sua cor
Não sabia mais de suas dimensões e tamanho
Foi aos poucos ficando alaranjado
Adejando idéias e dores nos rumos
Como as brisas que querem se irmanar às ondas
Foi se avermelhando até ficar definitivamente
Como ficam as pessoas cujo sangue
Cobre a carne vincada dos caminhos
Sem volta do ódio pelo açoite foi crescendo
Não podia redimir a humanidade não era quisto
Confuso e sem poderes que não
O anacronismo dos heróis comuns
Foi cobrindo o céu com suas duas cores
Que iam aos poucos se mesclando
Assim entre o avermelhado e o escuro
O sol se pôs
Desta vez para todos
Em cada inferno em que ela estiver
Serei seu vampiro da guarda
E lhe darei conselhos obscenos
Massageando-lhe os pés descalços
Com seus passos medirei o destino
De nosso desatino farei uma choupana
Onde a lua possa vir se balançar
Num crescente entre os galhos
E nossa pressa e nossos atalhos
Nos levem de volta aos abraços
Que deliciados experimentamos
quando deixamos o paraíso
Na segunda devo
caminhar em frente
E nunca olhar pra trás
Não pensar no cheiro
Dos lençóis e no gosto
Das histórias que construímos
Fui um ogro um cavalo e até bandido
Você me abduziu medicou
e deu seu líquido
Pra matar minha sede no deserto
Nossos personagens jamais
Sentiram fome de tão famintos
Nem desceram das nuvens
Mesmo com a perda das asas
Então em nome dessa beleza
Amanhã não devo me virar
Ao cruzar com sua estátua de sal
Não posso me sentir tentado
Nem mesmo a dar
Uma última lambidinha