5 de março de 2016

Lenda do Pôr

Suava seu pão no claro do dia
Era negro de um negrume mau
Como os versos de uma revolução sangrenta
E no seu negro negar havia ritmo e sedução
Umas poucas palavras escuras
Duras como a lida dos bordéis
Cobriam sua pele com cicatrizes simbólicas
Em que o ódio podia penetrar vergastando
Não chorava como era de esperar
Nem tramava vinganças terríveis
Não era um clown shakespeariano no umbral
Nem um verso heróico de Gonçalves Dias
Um homem comum ser comum filho
Do caos e à deriva como todos nós
Que podia ter sido o leiteiro de Drummond
Até mesmo personagem malandro de Jorge
Amado ou não em vida quem sabe
Mas o chicote não parava de estalar
Nessa malignitude que diziam existir em sua cor
Não sabia mais de suas dimensões e tamanho
Foi aos poucos ficando alaranjado
Adejando idéias e dores nos rumos
Como as brisas que querem se irmanar às ondas
Foi se avermelhando até ficar definitivamente
Como ficam as pessoas cujo sangue
Cobre a carne vincada dos caminhos
Sem volta do ódio pelo açoite foi crescendo
Não podia redimir a humanidade não era quisto
Confuso e sem poderes que não
O anacronismo dos heróis comuns
Foi cobrindo o céu com suas duas cores
Que iam aos poucos se mesclando
Assim entre o avermelhado e o escuro
O sol se pôs
Desta vez para todos

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