25 de fevereiro de 2016

O ruim de ter seu nome em V é que você é sempre o último a ser chamado quando sabe. Quando não sabe, ela faz um sorteio e a sorte, que sempre demora a chegar ao V, lhe abandona.
Uma vez, todo sabido, achando que tinha chegado a minha vez, me pareceu ter ouvido falar de uma inversão da ordem. Meu discreto e recolhido ego se apressou em pressurosamente se preparar para o chamado natural, carne e alma, mas... um corrupto, atrasado e uma maçã, foi o que me tirou os devaneios e os postergou.
De outra feita, mais feliz, observou-me à socapa: - Lindos olhos distraídos, V, cuidado, feche a gaiola, senão o passarinho foge!
Por muitas noites me perguntei se minha vontade de libertar passarinhos, essa minha noção de perpetuação das espécies aladas, esse meu senso ecológico, não teriam sido fruto desta observação.
Nada aconteceu que não tivesse sido inteiramente imaginado, desde então. O gosto de derrota na boca da libido ajudou a memória a não superá-la. Ficamos, em sonhos.
Em tempos de cólera me punha a dar tratos à bola sobre e se. Hoje planto flores nas palavras como quem deseja a liberdade aos passarinhos. E, sempre que posso, dou aquela flertada com o passado, para saber do presente.
Dela só o que sei, além do que lembro e do que inventei, é que a vida, por menos importante que possa parecer, deve ser seduzida. Shereazade transformou isso em sobrevivência, Clarice no surgimento de uma estrela, eu pratico com o conhecimento e vejo que, apesar das baixas, o número de andorinhas que se aventuram a sair da caverna, digo, gaiola, tem sido um pouco maior.
Avoai!!!!!

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