15 de março de 2014

redoneto

aprendi com as palavras
a me tornar ligeiramente
divergente do que quero dizer
a me enternecer com o vazio
a sentir frio quando há calor
a bajular o amor mesmo quando
ele esquece de existir

aprendi com as palavras
que estamos todos grávidos
em algum momento
de algo que é do outro
e que não existe repulsa maior
que esquecer o quanto
é singular a primeira pessoa

aprendi com a palavra árvore
a me contorcer por um nada de sol
e a me manter ereto mesmo
nas grandes tempestades

mas no fundo nunca soube
o que as palavras podem
me dizer de igual sem
que haja igualdade

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