27 de junho de 2013

EPISTAFA

(a pedidos)

se já fui
e não voltei
tudo rui
agora sei

24 de junho de 2013

BALADA DO DESENCANTO

Estranhamente o homem curvado
não sentia apenas a dor da pancada
sentia no corpo toda dor do mundo
e na cabeça uma tristeza ampliada
pelo sofrimento de seus camaradas

Internamente o homem alquebrado
não sentia as próprias vistas toldadas
ainda tentava entender tudo admirado
com o calor dos olhos apimentados

esteticamente o homem da barricada
era um conjunto de membros dobrados
estranha aranha tosca quase esmagada
fugindo de si para o calor da calçada

penosamente pobre homem improvisado
nadando vermelho no sangue espalhado
era menos ameaça à ordem constituída

historicamente o homem fotografado
na intimidade daquilo que acreditava
queria uma vida melhor a que levava
com muito amor e um céu enluarado
um violão cantigas de povo educado

Em sua mente cavalgando na utopia
esse homem pensava salvar a minoria
do jugo da galhofa e do preconceito

mas de revolução não entendia direito
repetiu coisas estranhas e sem sentido
dessas de fazer rir e de doer o ouvido

abaixo os partidos ele mesmo partido
ao meio no meio do meio-fio rachado
abaixo tudo e querendo tudo abaixado

não percebeu ser instrumento contrário
à revolução pretendida e tão sonhada

suástico em sua triste pequena jornada
incorporou o mártir do golpe nazifascista
e nesse dia tornou-se capa de revista

pensando bem no triste homem derrotado
e nessa coisa de fábula ter apenas animais
penso que ainda assim nunca é demais
tirar daqui uma lição e um bom recado

se for fazer protesto só por estar entediado
é melhor ler qualquer livro mais adequado
que ganhar jogando e defendendo time errado

13 de junho de 2013

Por inusitado e pouco
poético que pareça
no íntimo em segredo
ela queria o cavalo
não queria flores
nem o príncipe encantado
não queria doces
desses de confeitaria
queria ser cocheira
ter a equínea dimensão
do amor indelicado
e ter nas suas ancas
a marca dos cascos
a brutalidade dos ascos
esquecidos com a civilidade

queria mais que um namorado
queria pegada de verdade

DIA DOS NAMORADOS À MODA DE NELSON RODRIGUES

Não tinha namorado
Só sabia do amor aquilo
Que um querubim sarcástico
Segredava afirmando caustico
Que não teria nem amantes

Desesperada agarrou o tal cupido
E deixou vazar tudo de uma vez
Ele foi visto por último
na floricultura hoje bem cedo
Começou fumegando
Como a manhã de cerração
Fumaçava na boca das pessoas

Ninguém parecia perceber
Que aos poucos ela ia ficando
Opaca como uma nuvem

Na verdade é de se crer
que tinham medo
De lhe olhar nos olhos

E tropeçar na verdade
Ela estava se transformando
Em desejo em vontade

7 de junho de 2013


Entrou pela porta
Num dia vermelho longo
Longilínea ela toda pescoço
Bailarina de si e dos seus pensamentos
Pisoteava olhares com uma indecente
Indiferença inocente de quem não sabe
No que pisa quando parece flutuar

Não dançou
Não cruzou as pernas
Nem sequer bebeu da melhor cachaça

Acendeu seu cigarro
E criou uma atmosfera ainda mais viciada
Ao seu redor

Depois levantou
Pagou pelos tragos
E saiu pelo mundo sem pertencer a ninguém

Exatamente como as aparições fazem

5 de junho de 2013

Exalta cada favo de corpo que tua alma
Sorveu em busca da eternidade perdida
Escolhe um glorioso nome para cada
Canto de chão no qual tua dor se deixou
Cavalgar pela dor febril de outro alguém
Costura estrelas nas bandeiras dos olhos
Tristes de tanto fitar o solitário mar
Do exílio da pessoa amada ou por amar
Tira disso as imaginárias paragens
Onde supostamente canta a sabiá
E terás a pátria pela qual lutar todos
os dias pária que és nesse país
de corruptos, tristes e indiferentes