18 de fevereiro de 2013

E sem as palavras
Ela nunca seria Eva
Ele muito menos adão
Sem poder nominar
As coisas sem poder
Deforma-las
Deflorá-las não poderia
Sem as palavras o que seria
Do seu ser primevo
Não poderia ser servo
Nem senhor de sua vontade
Não poderia sentir-se alheio
Nem poderia dizer-se sem freio
De paixão ou alegar castidade
Quando isso fosse necessário
Toda fruta teria o gosto do contrário
Da libertação e do conhecimento
Sem palavras não haveria pensamento



Comentário feito ao poema
"um poema de Amor deveria nascer da boca" de Devair Fiorotti in http://www.facebook.com/groups/311597912232758/476689365723611/?notif_t=group_activity


Peço desculpas a todos
Mas era eu quem estava dirigindo
quando capotou o mundo
Era madrugada na via láctea
Corríamos em busca de um lugar ao sol
Ou de um pouco de distração
Havia muitas luzes piscando
Um pouco de álcool a bordo
E passava a vasta Raimunda
Que apesar de em demasia rimada
àquela hora parecia ser a solução
foi aí que perdi a direção

14 de fevereiro de 2013



A vida vai seguir
Vai ultrapassar a mulher bonita
Como num Hamlet desvairado
Vai refletir no vidro espelhado
Dos arranha-céus da Paulista
Vai pular amarelinha no pátio
Da escola primária e fazer fila
Para comer a merenda no recreio
Todos os dias que virão
Ela vai dobrar a esquina
E dar um encontrão
Com alguém do passado
E vai conversar fiado
De política e futebol
No café da rua do ouvidor
Vai partir-se ao meio
Quando a primeira célula
Fecundada resolver se multiplicar
E vai ficar sem ar
Depois da corrida de pique-pega
Algumas vezes vai dizer palavrões
Que podem ser em bom português
Ou num francês de orelha e cama
Mas da vida o mais belo e engraçado
É o que ela tem de medo e esperança
E não adianta ficar parado
Pensando em economizar na dança
Basta um olhar desavisado
Para ir vida pra todo lado


O amor não é coisa líquida
A não ser quando dá água
Na boca e essência escorrida
Ou vazamento nas torneiras
Da pele e da alma nas feiras
De escambo de corpo drogado
Do outro em excesso e satisfação
As vezes transita na contramão
Por isso pode morrer afogado
De tanto mimo ou tédio
Pode cair de um prédio
De violência e ilusão
Pode nunca ter razão
E viver forçando a barra
Pode ser a eterna farra
Adolescente intensa feliz
andando na corda por um triz
pode ser o que eu sempre quis
um panapaná colorido de Kiss
em batons diversos
e outros apreços
de sex shop
pode ser o top
de uma onda qualquer
e pode ser um ato de ser
isolado que vive numa ilha
quando outra presença é par t ilha
pode ser a descida ao inferno ou a ida ao céu
ou simplesmente papinha de bis coitos mabel

5 de fevereiro de 2013





 Cortava-me a pele
com a faca dos olhos
puxando cada pedaço
 com a calma fria 
 de quem sabe sentir
prazer na dor alheia
sabia que dos seus
salgados lábios viria
 a cura e a loucura
de me sentir sugado
alma sangue e virilidade 
 e sabia que metade
do meu ser seria
triturado nas mandíbulas
suaves e tranquilas
daquele ingênuo rosto
até que eu quase pudesse
sentir meu próprio gosto

4 de fevereiro de 2013

Solo de guitarra na alma entreaberta
na certa vão dizer que pari violinos
e que nunca fui muito justo com as palavras

Medo de ocasos e ocasiões especiais
Não mais sorrir pelos cotovelos
Não mais me envolver em novelos
ou novelas

Soltar as velas
da amargura
quem sabe a cura
aquela de voltar a ser criança
esteja além da Boa Esperança
esteja em mim desacordada
espalhada nos sete mares
da mulher na qual me fixo

Quero jogar meus botões no lixo
não são bons conselheiros
Mal servem pra me deixar vestido
E não posso mais ser bom
nem selvagem

não há volta da viagem
que é o dizer do já dito
só o conflito redime a alma
mas tenhamos a calma
que só a solidão apura

ser salvo não impedirá a loucura

1 de fevereiro de 2013



Ela quis minhas palavras nuas
E foi seduzindo minha língua
Com os ombros e espáduas cruas
Até me afogar na própria água

Da mordida tensa de intensões
Filha da vara tesa dos olhos
E das promessas de alucinações
A verbo dente e unha tatuados

Na pele chamuscada e louca
Do entre chão e céus da boca
Algo de mesclar letras carne

E desejo numa desesperada
Odisseia de fusão alucinada
Que me tornasse dela até o cerne