16 de dezembro de 2013

Já convidei as rosas
Para sua ceia
À luz de velas
E disse ao telefone
Que fique mudo
Ou que se suicide no jardim

O vinho tinto está ébrio
Com o que adivinhou
E bebeu das minhas intenções

Mas creio que é das taças
Que provém esta música
Meio romântica meio sensual
Que infunde em minha carne
Gentilezas e trapaças

É com essas mãos que sonham
O contorno dos seus lábios
De modo brincalhão como
Uma promessa de beijo
Adiado por maldade

Que sairá a resposta
Que sua esfinge úmida
De esperar anseia

E será baco que ficará
Bobo de inveja depois
que mãos e tudo o mais
se sintam em casa

Mas para que tudo seja
Perfeito completo e nada falte
Preciso primeiro encontrar
Um você que me aceite

11 de dezembro de 2013

Três mulheres no mesmo ninho
E eu sozinho no mundo
imaginando as do sabonete Araxá

Três musas três aviões
Três visões do infinito
A três tudo parece bonito

Não há indecisos nem dispersos
Só versus e avessos
Completados e incompletos

Corpo espaço emoção
Mão e contramão
Desencontradas e ao acaso

Um vôo raso sobre o perigo
O abrigo dos olhos calmantes
Na terra infantil dos abraços

braços e braçadas pela sobrevivência
Ciência do culto à liberdade
Vontades com forma triangular
Alguém para quem voltar

sempre

4 de dezembro de 2013

POEMA PARA UMA BONECA NO LIXO (extraído de uma imagem apresentada pela Professora Elimacuxi, ministrante da Oficina de produção poética constante da programação do Festival TOMARROCK, hoje de tarde, à beira do Rio Branco)

será um homem meu deus
que vejo no lixo

será que outro bicho
invejoso da sua condição
transformou a criação em dejeto

ou o projeto divino falhou
e o destino esse malcriado
é mesmo assim jogado

olhando bem parece uma boneca

mas que estranho lugar
pra alguém querer brincar
borboletas e flores
beleza do caminho
opressão do ancinho
não me representam

planos trienais
ordem psicodélica
perspectiva simbólica
não me representam

jornal nocional
nação de chuteiras
narrador sem noção
não me representam

beleza padrão
pedir sua mão
viver solitário
não me representam

tiro no escuro
que há detrás do muro
e o próprio futuro
não me representam

riquezas da terra
entrelugar
e o ter sem estar
não me representam

eu mesmo não me sei
por mim representado
especialmente quando
me vejo espantado

Poema comemorativo

Nesse vinte e um de dezembro
Faz um ano que o mundo não acabou

Não se acabaram as esperanças
Não se acabaram as lembranças
Não acabou o porvir

As pessoas boas continuam acontecendo todo dia
As coisas boas continuam acontecendo todo dia

ainda é lindo por do sol sobre o mar do Arpoador
A dança das baleias e seus gritos misturados
Aos das aves marinhas e ao rebolar das ondas
Sobre a areia num sambismo infinito

O amor dos amantes abaixo de céus e terras
E de um Shakespeare conformado
nunca se transformou em casulos e borboletas

a sagrada família do burgo continua reivindicando
o direito à exclusividade do existir e à exclusão

o louco pedinte da calçada anuncia
num pedaço velho de papelão
o que não aconteceu deveras

Os filmes de Hollywood continuam chatos
E os livros de auto-ajuda imóveis na prateleira
Não criaram vida nem se suicidaram

(o que talvez deponha contra a dita
ajuda que prometem se dar)

o pão colonizado do bolor de memórias
de dois ou três dias atrás não parece triunfante
antes teso de uma tesão mortal e triste

O ar morno da tarde cheira a sexo onde há flores
E café deixado no copo e mesmo assim
As pessoas trabalham construindo o inútil

Não há fim
Não há quebra da ordem
Nem medos e histerias que não sejam
o comum
ponto com
Do dia a dia

É de se sentir falta do desespero da última colheita
Do aviso de despejo do planeta
Do beijo último sobre o gozo final
Celebrando a fertilidade da terra pagã
Onde não mais brotará a manhã

Alguém por favor providencie um novo fim do mundo