16 de abril de 2012

poema para minha mais nova e distante amiga Elcione "a linda" (segundo suas amigas)

Elcione é nome de quê
Parece uma cantora que conheço
Alguém meio travesso
Que mudou o A para Ê
Mar de rosas no sorriso
Todo o preciso
Da beleza é dela
(É o que dizem suas amigas)
Mas deixemos as intrigas
E digamos que o nome
De alguém tão sublime
Lhe faz jus como uma canção
O nome dela de ciclone
É de verdade furacão

13 de abril de 2012

Hoje pandora veio conversar
Disse que não me assustasse
Que não pensasse nisso
Como pessoal e sorrisse
Parecia enlouquecida e justa
Trazia arrastada uma tampa
De caixa de bombons e flores
Já enlameadas pelo tempo
Ou pelo caminho barrento
Não se importava de dizer
A todo mundo que traíra
Sua própria natureza amando
Nem se importava que zombassem
Dos trapos que ainda vestia
Caminhava empertigada e crua
Como quem sabe de um segredo
Do qual ninguém na humanidade
Poderia deixar de ter medo
Quem ouvia se contorcia em dor

Tinha libertado o amor

11 de abril de 2012

Quando você veio
Veio em ondas sensuais
Quebrando todas as reais
Chances de navegação
Emborcando embarcação
Arrancando lemes e velas
Como um furacão de estrelas

Quando você veio
Ondulando em devastação
Rompeu diques de preservação
deixou rotas as rotas
Dos titânicos das gaivotas
dos intrépidos odisseus
e retomou-os como seus

quando você veio
onda quente de verão
me transformou em canção
de amigos ao luar
bebendo à beira mar
amando a noite inteira
ao redor de uma fogueira

quando você veio
num rompante de loucura
me transformou numa jura
eu que de pedra fora
me restava no agora
bebendo seu sal espraiado
moído em areia transformado

9 de abril de 2012

Já cheguei ao momento de ter
nas ruínas da mente
fantasmas indecorosos
cujas partes desnudas
se parecem com memória

Não permitir que copulem
nem se reproduzam à vontade
é um modo cruel de encarar o futuro

Já não há cheiros nos pedaços de lençol
que cobrem o pouco a ser coberto
e seus gemidos assustam
pela crueza com que denotam
a racionalidade

Suas mentiras são um pouco minhas
também
e crer me fazem
que cada espasmo vivido
tem seu preço no mercado
de sonhos e irracionalidades

ficar acordado é um modo
de tentar ludibriar o inefável
mesmo quando tudo (não) faz sentido

e por isso me quedo
meio corpo sem calma
mas no meu corpo
existem vácuo e solidão

O meu corpo
tem o vazio de alguém
que é o meu também

eu que já me arrastei nas paredes
tentando tirar seu gosto
da minha carne
percebo nas cicatrizes
que não há redenção nas palavras
nem nas promessas

volto meu coração ao autismo
de sua própria brutalidade
e me vejo encenar sombras de poemas
que não concebi

2 de abril de 2012

criou tudo num dia só, porque tinha pressa e era o último dia antes do feriado ou das férias – nem se lembra mais – sabe que correu contra o tempo, que, aliás, estava abusando da sua imortalidade. Pensou nos detalhes sórdidos e nos requintes de crueldade, assim, casualmente, e achou que seria bom que houvesse a tragédia. Imaginou que poderia haver o dualismo, mas errou a mão e criou o trio e a trindade se santificou. Achou que podia querer lembrar do fio da meada e criou o livro de receitas de barro. Barro cru, barro cozido, barro vivo, costeletas de barro e farofa de poeira. Não queria fazer mais nada, mas esbarrou no copo d’água e se distraiu vendo as gotas caírem no chão. Achou bonito, triste e colocou uns raios para trilha sonora e luzes. Viu que o barro se dissolvia e procurou um modo de evitar que a água continuasse caindo. Achou uns bichos que bebiam muito, colocou dentro da inundação. Criou a lenda e o mito meio sem querer. Quem quisesse que acreditasse. Achou melhor justificar seu erro e criou a casualidade. Depois disso veio a poesia, pra que todos pudessem mentir com satisfação. Um idiota criou a mimeses e ele não pode impedir. Dava na mesma, eram replicantes. Achou a intertextualidade uma coisa interessante, mas não gastou mais de um milênio nela. Tropeçou num pedaço de matéria no escuro, caiu, xingou tudo ao redor e criou coisas feias e escuras. Chutou a pedra do caminho e quase acertou a Terra. Não fazia mal. Ela ficaria ali rodando ao redor da Terra como uma pérola gigante. Ficou com medo do escuro e de cair de novo; não lembrava direito o que tinha criado ao cair. Mas sua sombra ficara lá. Dizem que no seio da terra, queimando. Chamou a luz pra não tropeçar de novo e inventou um carro pra ela andar nele. Fiat Luxo. O ó caiu depois da primeira trombada. Tinha esquecido de inventar a lanternagem...
o homem ensimesmado
se atira no horizonte improvável
em busca dos sonhos que não tem

as coisas líquidas de desdém
arpoam as baleias do viável

já os dias não dizem nada
que o dizer não se pertence
as madrugadas vão em manada
a noite somente acresce

tudo é natural e conhecido
e o desgosto tem o mesmo
gosto do cheiro de ontem

as marcas da parede ainda
não vestiram a roupa de festa
nem se embebedaram da
irracionalidade que resta

tudo é pausa no estacato
da respiração do mundo
até o navegar ficou mudo

é o surto