24 de junho de 2012

Quando ela sonhava bigbangs


O mundo balançava nas tetas

Do universo e o verso da palavra

Que fez a luz era um grito escuro

De um prazer intenso e morno



Quando ela ganhava bigbangs

O lácteo das veias em vias

De talhar criava atalhos e retas

E fazia dias e noites girarem

Alucinada e sistematicamente



Quando ela brotava em bigbangs

Trazia no torso hirto gangues

De planetas e alcatéias de cometas

Que uivavam nos seus divinos

Olhos de fazer chover estrelas

18 de junho de 2012

Ficou a noite toda no sereno


Olhava nuvens do seu útero de relva

Pensava na relação do escuro noturno

Com os gritos dos pássaros e da selva

A noite aos berros ia sendo rasgada

O sol devorava a placenta da madrugada

14 de junho de 2012

Do gosto mais hostil
do outro fez-se o beijo
e a compreensão repentina
de que não podia
mais viver só

Então reuniu sua carne
em torno deste objetivo
e foi aos poucos se fazendo
fluido e ideia
penetrando insinuando

Até desaparecer
num amálgama de prazer
e dor em cada detalhe
em cada entalhe
daquela estranha construção

Mesmo assim sua solidão
estava lá guardada num canto
na obscuridade que não
interessava conhecer

No início deixava-se levar
nas veias como quem navega
o impreciso mas necessário

Depois da familiaridade
foi aos poucos flutuando
para além de si rumo ao profundo
e percebeu que amar
era fácil e comum

Bastava se espalhar
se apropriar
se transformar
fantasiar
no outro

13 de junho de 2012

poema molhado pro dia após o dia dos namorados

O dia dos namorados passou
e um poema não foi publicado
a sua carne mais branca
amassada de travesseiro
esperando a tinta do desejo
quedou-se na lata de lixo
da inutilidade simbólica

Os orgasmos abandonados
na prateleira mais alta
dos sons animalescos
esqueceram de existir

Os cheiros da importância
do outro na existência do eu
a vaca do tempo lambeu
ou derramou no chão memória

Agora resta saber se virá um dia
num pote no final do arco
da tua íris ou no barco
em que é preciso navegar
um fortuito encontro ou lugar
em que a paisagem insaciada
pela beleza da boca molhada
se transforme em mar agitado
ou em represa que arrebenta
e que uivando se reinventa
toda hora em todo lugar

11 de junho de 2012

Vejo epifanias onde pifam os carros
Vejo as dragas e os dragões na lama
Dos rios mortos que cortam a cidade
Vejo maldade nos olhos abandonados
Das crianças cosidas nas calçadas
E um maldar contínuo nos corpos
Benevolentes e frios das sacerdotizas
Da noite carnívora que abandona
Os fracos abraçados à solidão
E faz sorrir árvores de natal
Vejo descalças as calçadas da fama
criatividade e lama na raiz do mundo
Por isso me escondo nas fendas
E sonho com as partes de mim
Que sacrifiquei em busca de paz

9 de junho de 2012

Quero pensar nas palavras
que não tenho nos bolsos
nas palavras cegas que tateiam
na minha garganta
criando pigarros na busca de luz
nessas palavras órfãs do medo
abortadas e reengolidas
com sapos e sapiência

Quero pensá-las de lado
Como uma musa gorda
De Rafael ou Boticelli
Expondo seu corpo
Imenso de prazer e sombras
E colocá-las junto às flores
Na cesta com outras mortes

Quero espremê-las na glote
Torcê-las no ventre
Antes que se tornem gemidos
Expulsá-las dos ouvidos
até que não se possa cogitar
os motivos que têm para continuar
insistindo em existir