23 de agosto de 2010

Quero escrever algo torpe
Algo feio
Que lembre bem o meio
Da feiúra
Como um miúra espetado
Contorcido arremetendo
Um poço de desejos
Que transborda e mata
De pequenas e grandes mortes
Ou uma paródia de verso
De Glauco Mattoso

Quem sabe se consigo ser
Perfeituoso
E inscrevo o amor é uma dor
Que faz sorrir latindo
O motorista de um fuscão
Aproveito o embalo e engato
O meu Iaiá
No seu ioiô

E meu avô
Torcendo os dentes
Na cova
Sova cada pedaço do caixão.

19 de agosto de 2010

Notei que você
Não me permite mais pensar
Notei que você
Mudou o cabelo e a boca
Agora está desenhada
Num lugar meu absurdo
Notei que você e eu
Não compreendemos um ao outro
Nem precisamos
Notei que você deixa a roupa atirada
E isso longe de incomodar
Perfuma o mundo
Notei que você não diz
O que eu queria ouvir
Nem me ama desmesuradamente
Notei que você e eu
Precisamos acertar os ponteiros
A todo momento e nas mais diferentes situações
Notei que você gosta das horas
Longas mas não dispensa as brevidades
Notei que as cidades ganham corpo
Quando você as possui
Notei que você sempre esteve
Onde eu precisava estar com você
Notei que você e eu
Em cada sorriso e lugar
Já nem precisamos nos notar

16 de agosto de 2010

Esperar nos arcos da lapa
O tapa
da realidade
Nas costas (nuas) da cidade.
Penetrar cada abertura
Como quem costura
Um destino ébrio
Às calçadas da boemia
Fingir que é dia
De pular do bonde
Indo verticalmente onde
o destino for mesmo
que pra todo encanto
Seja preciso esquecer
Que você,
embora sazonal,
Ainda é normal.