22 de abril de 2010

Não havia nas bocas
Nada senão bocas
Bocas que outras bocas
Já tinham abocanhado
Bocas trancadas no calabouço
De si
vorazmente engalfinhadas
Bocas crescendo
Disputando
Engolindo cada pedaço
Do outro
Numa antropofagia
Desesperada
Apressada
Quase mórbida
Pareciam ventosas grudando-se
Sustentando os aventureiros
No teto do quarto
Em pouco tempo
não havia mais nada
nem braços
nem pernas
nem cores
nem nomes
apenas bocas
insaciáveis
lascivas
e o beijo.

21 de abril de 2010

UM poema PODE tornar SEU leitor UM crápula?

In
Cesto
Gatinhos
E gatinhas
Lambem-se
Mutuamente

20 de abril de 2010

Tenho andado azul
Como nos quadros de Picasso
Não sei bem o que faço
Com o fato
De ter três dimensões
Talvez se eu tivesse
Apenas uma
E nada mais
Não precisasse
Esquecer que existo
Nem disfarçar
O volume incômodo
Que tua ausência traz
Ao meu abdome

Tenho andado azul
De fome
tenho andado muito
com minha sombra
sempre calada
triste angustiada
vivendo sombria
coisas impalpáveis
e parte do meu delírio cotidiano
em busca de respostas inevitáveis
partilho com ela
o meu pão de cada dia
(embora a dose seja única)
partilhamos também
tudo o que faço e faria
sem medo de errar
de dançar na chuva
até morrer de ciúmes
por isso quando amamos
eu apago a luz

18 de abril de 2010

hoje estou assim
dono da metade do que me lembro de nós
querendo invadir a outra metade

17 de abril de 2010

Quem sabe se é cio
Ou o frio
Da existência
Que mantém apertado
o colo da menina
quem sabe se é ardor
ou dor
de vazio
que detém enrolado
o abraço da retina
quem sabe se o impreciso
No mais Giocôndito de si
é camaleônica forma
de mostrar
e ocultar
as sombras do sorrir

15 de abril de 2010

Um dia
não sei se
de propósito
ou cortesia
o disco do Chico
não tocava mais
de tão arranhado
que se fazia

Então as coisas do passado
ficaram difíceis de achar

Não é que minha memória
tinha trilha sonora
pra ajudar?!?
Desejo roubar
essa boca
com beijo e tudo
como roubo
do teu olhar
meu eu profundo
Nas vielas da carne
próximo aos pântanos
já na periferia
é que os sonhos
são mais intensos
os bêcos mais sem saída
e a forma de morrer
é a mais estranhamente linda

13 de abril de 2010

Minha pele
adota fatos
que a solidão
dos teus olhos
não compreende

Cada volta
Que minha mente dá
Ao redor dos teus mamilos
Me obriga a ser
Mais duro
Comigo mesmo

Abocanhar teu mundo
Quase resume
Ser feliz
Com uma pitada
De crueldade

Que exercício é este
Misto de susto
E apicultura
Que nos torna tão densos
E perpetráveis?

A vida do ápice
É tão curta e tatuada
De um morrer sem fim
Que ele já nasce assim
Como um gemido