22 de dezembro de 2010

Ela estava ali
Viva
Parada com uma samambaia emoldurando
Meio mona
Meio lisa
O olhar embutido no mistério
Do sorriso quase casto
e gasto pelo desejo
dela dos outros dos votos
e lampejos
era quase abjeto
O sorrir dentro daquele quase sorriso
Como se ninguém mais soubesse
A sensualidade que há
Na ausência de insinuações
Na atitude reta
De quem não pode ser injuriada
Apertada
Surrada
Perdida
eternamente
No olhar do fotógrafo

15 de dezembro de 2010

Poema de sete fauces

quando nasci um anjo torta
desses que vivem nas sobras
disse vai roberto
ser gordo na vida

11 de dezembro de 2010

O tempo rouge
Nas faces do desespero
Esperar a prima vera
Como se as verdades iniciais
Se ocultassem nas saias
E no cheiro da flor
Que ela traz escravizado

O tempo rouge
Moulin de lembranças
E versos travessos
Ocultar-se no escuro
Ainda que de aluguel
E dormir o sono justo
Do paraíso recuperado

O tempo rouge
Vermelho maquiado de sons
As batalhas se sucedendo
Aos fatos embaralhados
Não há gigabites suficientes
Para trágicas memórias
O tempo agora é pardo

O tempo ruge
Nas faces do poeta
Nem semelhantes nem
Estranhos caminham ao redor
Só febre e uma pandora doce
Entoando cânticos nefastos
Todo o amor é tardo

23 de novembro de 2010

senti teu cheiro
no ar
enchi os pulmões
mas fui obrigado
a te soltar

19 de novembro de 2010

cansei de escrever poesia insinuante
agora escrevo em linha ereta

17 de novembro de 2010

As coisas não sabem
O que fazem
Mas nem por isso devem ser perdoadas
Devem ser impiedosamente usadas
Como coisas

16 de novembro de 2010

tenho que estar em você
como as coisas estão
num quarto de brinquedos
disponível
mas perdido

28 de setembro de 2010

não me deixe mais
falar do teu corpo
nem do teu gosto nem
da minha voz te procurando
em busca de nomes
e eco
Ao contrário me faça calar
castigando a boca
com o impossível de te percorrer
por dentro

8 de setembro de 2010

O bem e o mal se reconciliaram
Dentro de mim
E para celebrar
Fizemos um ménage-a-trois

6 de setembro de 2010

Tenho um diabo dentro de mim
E esse diabo tem um nome
De mulher tatuado num pedaço
Obsceno e gasto do corpo

As coisas que ele sonha e realiza
São coisas que suprimo e tento
Sublimar com álcool e cortinas de fumaça
Ou despacho numa esquina

Tenho um diabo dentro de mim
Nesse corpo que o tempo
Começa a esquecer nas dobras
Amolecidas dos relógios de Dali

E as coisas que reitero de sua prática
São fatos históricos em Gomorra
E heróicas narrativas de cafajeste
Que os netos ouvirão com descrença e fastio

Tenho um diabo burguês dentro de mim
E com seiscentos milhões de quiabos
Acho que ele está construindo
Um duplex na minha barriga

2 de setembro de 2010

Quase todo dia
Penso no tempo que perdi
Para fazer quarenta e cinco anos

23 de agosto de 2010

Quero escrever algo torpe
Algo feio
Que lembre bem o meio
Da feiúra
Como um miúra espetado
Contorcido arremetendo
Um poço de desejos
Que transborda e mata
De pequenas e grandes mortes
Ou uma paródia de verso
De Glauco Mattoso

Quem sabe se consigo ser
Perfeituoso
E inscrevo o amor é uma dor
Que faz sorrir latindo
O motorista de um fuscão
Aproveito o embalo e engato
O meu Iaiá
No seu ioiô

E meu avô
Torcendo os dentes
Na cova
Sova cada pedaço do caixão.

19 de agosto de 2010

Notei que você
Não me permite mais pensar
Notei que você
Mudou o cabelo e a boca
Agora está desenhada
Num lugar meu absurdo
Notei que você e eu
Não compreendemos um ao outro
Nem precisamos
Notei que você deixa a roupa atirada
E isso longe de incomodar
Perfuma o mundo
Notei que você não diz
O que eu queria ouvir
Nem me ama desmesuradamente
Notei que você e eu
Precisamos acertar os ponteiros
A todo momento e nas mais diferentes situações
Notei que você gosta das horas
Longas mas não dispensa as brevidades
Notei que as cidades ganham corpo
Quando você as possui
Notei que você sempre esteve
Onde eu precisava estar com você
Notei que você e eu
Em cada sorriso e lugar
Já nem precisamos nos notar

16 de agosto de 2010

Esperar nos arcos da lapa
O tapa
da realidade
Nas costas (nuas) da cidade.
Penetrar cada abertura
Como quem costura
Um destino ébrio
Às calçadas da boemia
Fingir que é dia
De pular do bonde
Indo verticalmente onde
o destino for mesmo
que pra todo encanto
Seja preciso esquecer
Que você,
embora sazonal,
Ainda é normal.

26 de julho de 2010

Quero me esvaziar do mundo
Não parem
Não quero descer
Quero apenas o vazio
Da fome
Do frio
Da escuridão sem nada
Mas quero continuar girando
Em rotação e translação
Como todos
Não quero a cegueira
Que já seria algo
Nem folgo em dizer
Que gostaria de me saber existindo
Queria apenas um lindo
Esquecimento
Um momento
De não saber coisa nenhuma
Apenas a bruma
Do desconhecimento e da ausência

14 de julho de 2010

O que me importa se
sou mulher quando seduzo
e homem quando possuo
a minha natureza é torta
e vivo de sofrer transformações

13 de julho de 2010

abater um dedo com
a rosa Os espinhos
São internos
Que tem demais

Em pedir direito
A gente preda
a mão pedindo
porque não o lindo

A boca do leão
Entrega-se à noite
Dos teus traços
Meu copo denota

o teu perfume
entender finamente
a razão da existência
O universo é penetrável

12 de julho de 2010

Adoto um poema

Pode ser branco preto
Mesclado amarelo
Indigenista ou não
Pode não ter cabelo
Pode até ser um apelo
Aos sentimentos mais maternais
Não consigo conceber o verso
Que me arrebenta a garganta
E preciso experimentar
Porque o relógio biológico
Exige que eu tenha
Um poema meu
Dado
Vendido
Contrabandeado
Se for o caso
Não precisa ter rimas azuis
Nem ritmos encaracolados
Pode ser qualquer um
Ter pedras ou vir de paragens distantes
Onde as prostitutas e as palmeiras
São amigas bonitas e andam de bicicleta
Pode ter o olhinho puxado
E ser mirrado
Como um haiku

Adoto um poema
Que precise de pai

8 de julho de 2010

Um poema de pé quebrado
Pousou torto
Nos meus umbrais

Na hora não dei nota
Do ocorrido
Mas sentindo condoído
E achando que domesticaria
Dei água
Comida
Afeto e limpei
Seu ferimento
De aspas ponto
E artigo indefinido

O alimento não era apropriado
O afeto o fazia contra-ír-se todo
E o poema morreu
Entalado na garganta

Na hora a dor nem foi tanta
Nem sequer tínhamos recém nos conhecido

Mas a doença do pé destruído
Era contagiosa
E o poema no céu de não mais
Deste meu mundo

Virou prosa

4 de julho de 2010

Não filha
Nem sempre é sempre
Não
As vezes é sim
Ou talvez

Tem vez que a gente
Nem sabe o que fez
Mas acaba sendo

O mundo é gira
E a gente não sente
Muito quando
Incorpora
O agora

As vezes somos
O que já foram
Antes de nós
Conosco

Em outras polvilhamos
O mundo de idéias
E fatos que se renotam

Mas acertamos sempre
Ainda que em errar
Judeando a sorte

Não filha
Nem sempre é sempre
Sim
Ou não
As vezes é a vez
De estar lá

Ou já era

26 de junho de 2010

Estou
Pouco a pouco
Me tornando
Meu próprio
Mal necessário

22 de junho de 2010

Pro dia nascer feliz

Sigo sendo um poeta na noite descalibrada
Não me leve a nada
Nem me pergunte o que
Eu nem ligo
Poetas são carências marginais
E antes mais
Que novamente
Sigo sendo poeta em dias de cavalgada
Não me leve a cada
Cocho do teu ser
Eu nem fico
Poetas são um tormento fugaz
E antes ais
Que continuamente.

21 de junho de 2010

Rasgar com os dentes
O plástico
--------A plástica
-------------A plasticidade do ato
Continuar resoluto rompendo a madrugada
----------------------------------Até a saciedade

19 de junho de 2010

PÔ, ÉTICA???

Apressem os sentidos
Apreendam a razão
Não há motivos
Nem solução
Que não tenham sido tentados
Nem tentação demais
Nos descalabros
Derrubem os candelabros
Não há mais luz
De velas
Nosso romantismo corresponde
A um sentimento
Inócuo de prazer estético
E é patético pensar
Em formas
quando os sentidos
Estão melados de originalidades
É sempre meia verdade
Uma revolução poética
Tentemos então o absoluto
Do ventre livre
E aliterações
Pensemos em ações
Entre bons amigos
Façamos dos umbigos
A nostalgia dos oito
Sentidos
o poético
o psico-ético
o sócio-histórico
e os outros cinco
mais subjetividades
pensemos nas festividades
do baixo ventriloquismo
e na tecnologia do consolo
sejamos oníricos
nas manifestações almejadas
mas não no dia-a-dia
fazer poesia
não corresponde a nada
nem a sentir
nem à piada
do passarinho.

18 de junho de 2010

Tenho muitas metades
Imaginadas Assim como
Tenho muitas vontades
Tramadas em narrativas
Ainda não iniciadas

Tenho iniciativas que
Não tomei no momento
Certo e uma incerteza
Voraz que me impede
De lamentar o que perdi
Ou o que nem tive ainda

Tenho uma vida que
Queria fossem muitas
Como as de um gato
Tristonho diante da lua
Ou como a rua indefesa
Diante do tráfico de
Olhares e desejos

Tenho muitas metades
Dispersas em calamidades
E abusos de autoridade
Ou autorias e tenho minhas
Vias respiratórias con
gestionadas pelos cheiros
dos prazeres e precauções

Tenho metades
Mas não tenho razões
para suspeitar de minhas
-------------------Integridades

17 de junho de 2010

com.com

Os dias e as horas
Vagam infames
Entre games
E distritos virtuais
Não há mais inibição
Nem medo

O fingidor agora
Tem alteridades
E não há verdades
Inteiras que não tenham
Mais uma metade

A esquizofrenia em rede
Domina o solitário
Exponencialmente
E ele cria mundos
onde escreve lê pensa
de diferentes modos
Nos tornamos nossos
Próprios godos visigodos
E outros engodos mais

Não há mais privacidade
No próprio templo
O analista
Os pedagogos
O ginecologista
Os amantes
Os piercings
E até as mídias
Como vikings
Aportam em cada poro
Etéreo
--------venéreo
----------------virtual
de lado a lado

O ser humano --------- enfim
Está superpovoado

15 de junho de 2010

A tradição trai
Traduz uma luz
De tempos idos
E referidos fatos
Teatrais
E faz mais barulho
Que o entulho
Acumulado em escombros
Recém inaugurados
Mas é apenas mais um raconto
Um ponto de velhos fingidores
São dores de outras eras
São feras a espera de presas
São mesas postas
Em dias de feriado
E o embargado dos sentidos
Que constroem no dia-a-dia
A sensação de comodidade
São a verdade coroada
E nua diante da criança
São a dança dos fatos
Vencidos numa trama
Que tudo naturaliza
A monalisa sem bigodes
Os pagodes cujo imperador
Não impera
Uma quebra de contrato
Assinada de antemão
A mão na roda (do leme)
A coda dos vencidos
E vencedores
As cores de uma bandeira
São a maneira
De amaneirar-se
A catarse das entrelinhas
Às vinhas do absurdo
O mudo olhar que revela
Uma narrativa da paz
e prosperidade
uma vontade
de parecer semelhante
um gigante que não
se desgoverna
uma caverna com vultos
os cultos e cultuados
os magistrados
e suas pastas
as castas
maneiras do ser
ou não ser
uma mulher Captada
em adultério duvidoso
ou o formoso que canta
na sacada
uma espada
uma lei
A tradição
é coisa de rei
que nunca voltou
mas sempre virá
É um lá e cá infinito
é o bonito do agora
que é feio e sem nexo
só não é sexo
porque a tradição
é assexuada e traidora
e com sexo não é possível
trair
apenas atrair
mais seguidores
que virão no porvir
ou nonada.
A tradição trai
Atrai uma luz
Muito relativamente
E torna massa
Divergente de sua energia
E cria embargos
E cargos desnecessários
A tradição embora assustadora
É quem nos monitora
Desde antes de oitenta e quatro
É o entreato platônico
É o hecatômbico acaso
Do Caos
O atraso menstrual
O formal pedido
Perdido no espaço
Um passo dado em falso
Em busca de um tempo
Acabado
É um não acabar um poema
Só por monotonia
É um dia
Era uma vez
A verdade mais densa
É quem pensa
Que pensa melhor calado
Polifonicamente
É a serpente
Culpa, expiação e buracos
Nas fechaduras
A tradição mente
Mas não é diferente
de si mesma
lesma de rimas óbvias,
é aderente.

A tradição não faz nenhum sentido
Porque os sentidos
Já nascem para ser educados
traídos
atraídos
E traduzidos
Aos bocados.

13 de junho de 2010

Visita de linho
No meio da meada
A linha sai da linha - embolada...

9 de junho de 2010

Um dia
ia indo
o mundo
vinha vindo
na direção contrária
e o choque foi inevitável

Não digo que era um dia
para maus humores
ou para rumores e resmungos

Era um dia comum
aprazível e naturalizado
A praça era praça
A flor era flor
O café tinha o mesmo cheiro
do café do dia anterior

Sexo não havia
pelo menos chovendo
não Mas o mundo vinha vindo
inexorável como sempre
indelevelmente inexorável
atropelando atropelados
rasgando virgens
folhas fazendo
com que a caneta
a segura bela e dócil caneta
crescesse e se multiplicasse
em espelhos
memórias
essas histórias descoloridas

Ai notei
a vida tinha virado
um eterno mangá

7 de junho de 2010

Te queria como querem
As bolsas o seu conteúdo
Te queria tanto e como
De modo que se não fora
Que fosse dubiamente
Te queria desse jeito
Tão rompante
Que de tão infante
Me infartei
De ti

31 de maio de 2010

ME DESCULPEM - ME A MIM meus leitores de poesia!!!

Gente, é sério!!! Nunca fui anti-semita, nunca me manifestei sobre a questão do Oriente Médio do modo com vou fazer agora. Acho mesmo que este blog não é o lugar nem o espaço certo para isto, mas, tenha dó, haja paciência (sequência de palavrões censurada pelo autor)!!!! O que Israel fez, desta vez, passa dos limites do razoável!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O perfil transfigurado do justo
Quando a justiça é perfeita
As mãos atadas do poder
Divino ao acaso
O caso da criança
Que pulou –não pulou –
Da janela com a raiva do Pai
As estranhas entranhas do silêncio
Movendo-se em linha desesperada
Trinta metros até a calçada
A quietude dos dias de Pompéia
Onde estariam agora
A perna da boneca perdida?
As loucinhas de plástico?
Um ursinho de pelúcia meio zarolho que todo mundo achava feio
mas não dava pesadelos?
O que ela faria
Agora, quinze anos, depois?
Tomaria um chopp?
Venderia o corpo?
Estaria num shopping?
Prepararia seu TCC?
O enxoval?
A justiça perfeita dos homens
Ainda não foi estabelecida
Entre as divindades.

24 de maio de 2010

JORNADA NAS ESTRELAS

Indo
Onde
Inda
É vc.

20 de maio de 2010

Tudo no teu
Gosto imaginado
É pecado
É pegado
Na língua
É linguagem secreta
De pele que veste
Pele
E líquido
Que liquida atos
São fatos
Fingidos no desejo
São faca e
Beijo na mão

São a noção do non sense
São seis pence
De doces desvarios
São os rios internos
Dos infernos
Nos mamilos
São bacilos
De amor eterno

Tudo no teu gosto
Invaginado
É pecado
É rasgado na língua
No corpo sutil da noite
É quase morte
É quase vida
É a ardida
Voz
Do novamente.
Pour Eli (se – ela aceitar) e também, e porque não, à Su e Cida.


“É a vida quem me mata”
É a ata por escrever
De tantos enganos
São os planos de saúde
Glória e a história
Do seu amante
É um instante
instantâneo digital
Que recebi pelo correio
Eletrônico
(e que não abri
Com medo de vírus
E da vida)
É uma pétala caída
em desgraça de malquerer bem
É o ter que lidar com o anexo
Ao título mal escrito da mensagem
- veja ela com outro alguém -
É à margem do firewall
Um muro parado
Numa corrida contra o tempo
É um tapa de luvas de pelica
No suspeito do futebol
É um duelo ao pôr
E o estupor
De sair vencido.

18 de maio de 2010

Busco nas veias
As vaias do sangue
A cor do mangue
A gangue de depravados
Que policio
O fio onde caminho
O ninho das mazelas
As scelas nas quais desconto
O monto dos meus pecados
Os lados da minha esfera
À espera do teu aceite
O azeite dos nossos lábios
Os sábios de outra era
A fera

17 de maio de 2010

Mediu as palavras
Uma a uma
Antes de dizer
Que permaneceria em silêncio.

12 de maio de 2010

sou o que não sou
e de tanto ser
o que não sei
acabo sendo
meu próprio rei


mando em mim mesmo
e se me desobedeço
é só para provar
que ainda sou livre

10 de maio de 2010

Travessas

Atravesso
Outra vez
Atavios e atalhos
Os talhos na carne
Não cicatrizada
Por um triz.

Travessamente
Se atraem na
travessa deserta
os traços devassos
de nossas tramas.

São dramas
E são passos
As peças que espessam
Os fatos.

São espaços
Não preenchidos
Os aspectos da beleza

São a mesa

A travessa.

6 de maio de 2010

CANTATA DE BACH

Tenho o direito
De permanecer calado
Mas tenho o seu fado
A me aprisionar

Tudo o que eu disser
Poderá ser
Usado contra mim
Se me declarar

Tenho direito
A um telefonema
Mas o problema
É que não tenho
Número para discar...

5 de maio de 2010

Fabricar sua imagem
Invertida
Perversa
Antediluviana
Ou paradisíaca

Brincar com sua ausência
De más intenções
Ou com a ingenuidade
Das pequenas maldades em você

Esperar dias
Pelo seu mau humor
E depor flores nas suas intensidades

Repensar nossas inverdades
E investir cada vez
Mais na ausência de castidade

3 de maio de 2010

banco imobiliário

Tuas insanidades
Excitam minha pureza
Descrevem uma beleza
Que não me pertence
Valem exatos seis pence
De rimas e remédios
E alguns prédios
No banco imobiliário.

1 de maio de 2010

amar você

Amar você
De todas as formas estranhas
Das entranhas
Ao infinito de todas idades
Até te transformar em metades
De mim
Ou até que a morte
Venha me buscar
Dentro de você

22 de abril de 2010

Não havia nas bocas
Nada senão bocas
Bocas que outras bocas
Já tinham abocanhado
Bocas trancadas no calabouço
De si
vorazmente engalfinhadas
Bocas crescendo
Disputando
Engolindo cada pedaço
Do outro
Numa antropofagia
Desesperada
Apressada
Quase mórbida
Pareciam ventosas grudando-se
Sustentando os aventureiros
No teto do quarto
Em pouco tempo
não havia mais nada
nem braços
nem pernas
nem cores
nem nomes
apenas bocas
insaciáveis
lascivas
e o beijo.

21 de abril de 2010

UM poema PODE tornar SEU leitor UM crápula?

In
Cesto
Gatinhos
E gatinhas
Lambem-se
Mutuamente

20 de abril de 2010

Tenho andado azul
Como nos quadros de Picasso
Não sei bem o que faço
Com o fato
De ter três dimensões
Talvez se eu tivesse
Apenas uma
E nada mais
Não precisasse
Esquecer que existo
Nem disfarçar
O volume incômodo
Que tua ausência traz
Ao meu abdome

Tenho andado azul
De fome
tenho andado muito
com minha sombra
sempre calada
triste angustiada
vivendo sombria
coisas impalpáveis
e parte do meu delírio cotidiano
em busca de respostas inevitáveis
partilho com ela
o meu pão de cada dia
(embora a dose seja única)
partilhamos também
tudo o que faço e faria
sem medo de errar
de dançar na chuva
até morrer de ciúmes
por isso quando amamos
eu apago a luz

18 de abril de 2010

hoje estou assim
dono da metade do que me lembro de nós
querendo invadir a outra metade

17 de abril de 2010

Quem sabe se é cio
Ou o frio
Da existência
Que mantém apertado
o colo da menina
quem sabe se é ardor
ou dor
de vazio
que detém enrolado
o abraço da retina
quem sabe se o impreciso
No mais Giocôndito de si
é camaleônica forma
de mostrar
e ocultar
as sombras do sorrir

15 de abril de 2010

Um dia
não sei se
de propósito
ou cortesia
o disco do Chico
não tocava mais
de tão arranhado
que se fazia

Então as coisas do passado
ficaram difíceis de achar

Não é que minha memória
tinha trilha sonora
pra ajudar?!?
Desejo roubar
essa boca
com beijo e tudo
como roubo
do teu olhar
meu eu profundo
Nas vielas da carne
próximo aos pântanos
já na periferia
é que os sonhos
são mais intensos
os bêcos mais sem saída
e a forma de morrer
é a mais estranhamente linda

13 de abril de 2010

Minha pele
adota fatos
que a solidão
dos teus olhos
não compreende

Cada volta
Que minha mente dá
Ao redor dos teus mamilos
Me obriga a ser
Mais duro
Comigo mesmo

Abocanhar teu mundo
Quase resume
Ser feliz
Com uma pitada
De crueldade

Que exercício é este
Misto de susto
E apicultura
Que nos torna tão densos
E perpetráveis?

A vida do ápice
É tão curta e tatuada
De um morrer sem fim
Que ele já nasce assim
Como um gemido

17 de março de 2010

A menina veio
Como num quadro
Do holandês louco
Ficou pouco
Uns três orgasmos
Talvez
Mas fez a maçã
Parecer inocente
E destilou na semente
Cianeto em sorrisos

Outra menina veio depois
E depôs
Em juízo
Que não fora preciso
Arrombar a porta:
A natureza já estava morta...
No princípio era a carne
Sã e boa
E tava atôa
Na areia
Num decúbito
Arrebatadoramente volumoso

Depois, mamadeiras
Contas a pagar
E um ar de never more
No periquito
Ainda vou fazer
Uns poemas de saudade
Mas antes quero sentir
A nostalgia do não vivido
Para poder entender
Como é sentir falta
Do que não tive

Depois vou tomar
Um porre destes
De pra quê tanta
perna, meu deus?!?,
E me sentir envolvido

Depois, quem sabe,
Olvido esta besteira
De te sentir falta
E me dou alta
Desse teu hospício
O seu olhar
Deu tanto nó
Nas minhas tripas
Que nem as ripas
Das costelas
Escaparam sem defeito

16 de março de 2010

os poros sensatos
não soltam gemidos
mas soam em alto
e bom tom
vermelho mordida
a pele fendida
ainda salgada
confusa na carne
encruzilhada


(é tanto caminho
se encontrando
que fica difícil
ser encontrado)
deixe estar teu sorriso
deixe
que é preciso
estar
alguns sorrisos a mais
alcoolizado
deixe a pupila
da tua língua dilatada
de falsa surpresa
diante da minha

agora vai ser assim
toda cena de amor
vai ser pretexto
pra eu sair do texto
e de mim

(sinto falta
de sal nos meus olhos
já não choro mais
apenas assusto fantasmas
com hurros profundos
e descrevo por dentro
primaveras que não vi)

assim a idade
Vai amortecendo os fatos
e a morte
a Penélope dos anos
me espera entretecida
em panos
encharcados
de perfumes baratos
Céu da boca:
O infinito
Brinca de mim
mãe cadê as putas
Cadê as uvas
Onde estão os corpos na grama
As cinzas dos baseados
os acampados do jardim
Mamãe cadê os vinhos
Onde estão os ovinhos
De Páscoa e o cheiro de licor
E fumaça
Nos bigodes de papai
Mãe onde estão os dados
Viciados da vida
Onde estão as corridas
De domingo de manhã
Pelo jardim à beira mar
Meu Deus, mãe
Até as putas envelheceram
Só têm pelancas
Não têm mais ancas
Para me sustentar
Tragam-me novas putas
Mais baseados
Ergamos muralhas
De cadáveres e de
garrafas vazias
Mas não deixemos
o tempo aqui entrar
Queria ser apenas
O poeta de todas as horas
Todas incongruências
Todos os ângulos
Das tuas virilhas
Das tuas ervilhas
Nossa incivilidade

Queria ser apenas o poeta
Nada mais
Mas esqueci de dizer
A palavra mágica
Aquela que brota
Ventríloca
Longe dos lábios
Surda e sibilante
Como se vazasse
Do sexo saciado
Inchado e solitário
Do pós coito

Queria ser o poeta
Das tuas loucas horas
Das hordas
que se movimentam
Nos teus desejos
Mais devastadores

Queria ser teu poeta
Sem mais nem menos
E te domar
Entre as palavras
Como montaria
E desespero

4 de março de 2010

Esta é uma pergunta
De quando eu tinha
sete anos
Como nunca
ninguém respondeu
Continuo fazendo:
- Se todos no mundo
Têm seu par ideal
E o número de
Pessoas for ímpar
O excluído serei eu?
Enfrento os calhaus do teu sorriso
É que eu preciso sobreviver
Assim prostituído e casto
Um misto de profundidades
E queijo fundido a frio

Me intimido de uma intimidade
Faminta, aguda,
úmida por dentro e
Fora de mim te olho de balaio
Pois de soslaio ilumino minha sina

Será necessário sustentar teu
Olhar a cruzeiros
Ou ver navios é típico de cruzados
que fazem moquecas de moinhos
em cada confronto que calhar
dos olhos d´água com a roda
que mitiga tudo
o que vale uma pena?

Enfrento os calhaus do teu sorriso
E quem sabe preciso - um dia
Dizer como se poeta fora
Que tinha um cisco
no olho molhado
ou apenas que havia tropeçado
no meio do caminho...
imagino se minha carcaça velha
e putrefata por dentro aguenta
um vexame de borboletas
em disparada cardiorespiratória.