12 de setembro de 2006

Possuir os gritos
Mais do que a vítima
Possuir o medo
Os tremores,
a ira
Beber o suor
E a adrenalina
Brindar até o romper
das taças
esparramando o tinto
além da moldura
Gosto de avançar sinais
E tropeçar em catedrais
De cartas marcadas
Gosto demais
Deste seu sorriso
Que se contradiz
E gosto por um triz
Da rima marota
E pobre
que tem a felicidade
De encontrar um poeta burguês
E descompromissado como eu
Mas o ápice mesmo
É quando casados a esmo
Vivemos felizes
Para sempre
O nutricionista chefe
De cuisine
Do canal menos
Dizia
Dia desses
Que é possível
Fazer sim
Uma colorida salada diet
Das pétalas
das flores do mal
E o Leminski
coitado
Nem ficou sabendo
Depois de tudo
Ele foi-se embora
Não vou dizer
Que foi bom pra ambos
Mas nem sempre
É bom mesmo
pra qualquer um
Alguém reclamou
Com o síndico
E este veio ver
Se havia vazamentos
Tudo estava lá
Intocado
Não havia desordem
Nem sombra
De dúvida.
Ele tinha ido embora
Mas agora ela
Deixava as torneiras
Abertas sempre
que precisava entender
a solidão
Tanto faz
Na tenda dos meus vinte e cinco anos
As bolas e os cristais
Cheiravam a sexo
Como o mundo

As poses no instantâneo
Eram advertências
mudos semáforos
Apagando e acendendo
Incensos e róseas marcas
De batom nas cuecas do tempo

Minhas mais nobres intenções
Estavam escritas
No idioma cálido
E energético das aparências
Morrer era só uma questão
De mitos

Quem tinha as melhores apostas
Simplesmente adiava o jogo
Achando ter nas mãos
O que chamamos destino

Quem não sabia o que fazer
Ou mal jogava
Simplesmente chutava
O pau da barraca
os cristais
e morria
de tanto fazer

1 de setembro de 2006

Rameira sim
Vermelha por dentro
E a sua volta
Nas pálpebras
Do verbo dilatado
rouco
Desesperado e breve

Rameira sim
E até demais
Nas costas da tua mão
Que foge ligeira
deixando pistas
Espalmadas no trilho
Branco do biquíni

Rameira sim
Da boca pra fora
De corpo adentro
Oferecida até
nos abismos
do acaso imoral
da imoralidade

Rameira sim
De cuspir os dentes
Nas meias verdades
Do sim e do não
E de voltar à carga
Nas montarias
Circunspectas
Da solidão

Rameira sim
Para por fim ao vício
De sustenir
O desejo
com os títeres
da razão

Rameira sim
De borrar
A lente do mundo
Com o baton
Dos teus versos
E avessos

Rameira assim
De ir até o fim
Ou até o mais imundo
De nossas fantasias
E de não me penetrar
Na vida sem
Com sentimento

Rameira em fim
De ser metade minha
Metade sua
Seja você quem for
Que me possua